quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Permaneça no esquecimento

Acordei nesta madrugada e senti a presença de alguém no meu quarto, olhei ao redor e vi um vulto, pela silhueta pensei que fosse você, mas lembrei que já faz tempo que recebi a notícia de sua morte. Sim felizmente você faleceu. Há muito tempo você já havia se tornado apenas uma lembrança de um momento qualquer em um passado remoto que já havia entrado para o esquecimento. E a notícia de sua morte veio justamente para assegurar que você permanecesse neste passado apenas como uma lembrança, e não viesse assombrar meu presente.
Muita coisa mudou, sentimentos fingidos, historinhas contadas, conversinhas fiadas, juras quebradas, promessas não cumpridas, mas tudo isso não passa de palavras. Palavras vazias que não querem dizer nada, palavras sem significado.
Não me entristeci ao saber que você havia falecido, pelo contrário, mas me senti um pouco culpado por isso. Culpado por sua morte, mas por quê? Culpado por quê? Por quê? Se foi você que cavou sua própria sepultura, se foi você que se condenou. Se você sempre foi assim, se você sempre carregou isso oculto dentro de você, só que você apenas não tinha exteriorizado isso ainda. Então por que me sentir culpado de algo que não fiz e tão pouco sou responsável? É, felizmente a culpa foi toda sua, esta foi sua sina, e por causa dela você sucumbiu, seu mundo desmoronou e você não mais existe. Sua passagem pelo mundo foi insignificante, como foi toda a sua existência. Você se foi e não deixou saudades, não deixou legado algum.
Hoje, você repousa em um sono eterno sob a terra, e sobre a terra que cobre seu corpo putrefato se encontra a única marca de sua passagem por este mundo. Uma pedra negra com a seguinte inscrição:
“Aqui jaz a podridão do mundo”.
E ao lado do seu corpo decomposto encontram-se as suas últimas amigas, as únicas que lhe restaram: a mentira, a inveja, a volúpia, a depravação e a ignorância. Talvez agora possa haver esperança de dias melhores, esperança de que a verdade e o bom caráter possam prevalecer neste mundo tão podre e falso ao qual infelizmente estamos habituados.

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